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Inteligência

A Inteligência tem sido definida, dizendo-se que é a arte de compreender. Mas ninguém pôde ver nela uma microscópica, diremos assim, partícula da Inteligência Divina. Contudo, todas as idéias cosmogônicas se referem à existência de uma só Vida Universal. A tal respeito, nos referimos, para maior segurança, tanto ao Budismo, que sustenta essa realidade, como ao Antigo Testamento, no qual se lê: Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o último, depois de mim não há ninguém, Eu Jeová. E no Novo Testamento, temos as palavras do Cristo: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida Verdadeira. Logo, fora de Deus não há nada. Todos vivemos em Deus, ainda que nem todos sejam conscientes dessa Vida Superior em que todos vivemos e nos movemos, como disseram os Apóstolos: Nós não vivemos nem movemos em nossos corpos, nós vivemos e nos movemos no Espírito.

 

Assim, sendo todos partículas espirituais do Todo, nossa Inteligência é, pois, uma pequeníssima chispa dessa Grande Fogueira. Mas esta comparação não encerra o conceito, pois essa chispa diminuta em grau superlativo de inferioridade não sai da Fogueira Central, à qual, no entanto, está unida e nela habita.

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Não é possível, então, reduzir a Inteligência a uma simples faculdade humana, desprovida de seus atributos divinos, pois é esta faculdade a que nos caracteriza e diferencia do resto da Criação. Se bem que já alguns iluminados alcançaram a ver, em forma ascendente, certa manifestação da Inteligência nos três reinos da Natureza: mais caracterizadamente, no reino animal.

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Em suma, como poderíamos imaginar outro conceito que não este (emitido e aceito por todas as cosmogonias), que somos feitos à imagem e semelhança de Deus?

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Naturalmente que este assunto não se prestaria para tomá-lo em suas particularidades materiais, senão, fundamentalmente, em seu aspecto espiritual, já que, como disse São Paulo, temos dois corpos, um material e outro espiritual. Portanto, se refletirmos com referência aos atributos que tem que ter Deus, encontramos que o espírito humano é semelhante a Ele.

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Façamos um paralelo, neste sentido, entre o Macrocosmo e o Microcosmo. Para este fim, recorramos às mesmas Doutrinas. O Evangelho de Cristo, na boca dos Apóstolos, disse: Deus fez a terra com Inteligência e os Céus com Sabedoria. Vemos, pois, que o homem tem inteligência e tem, também, sabedoria.

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Não poderíamos imaginar Deus sem memória. Ele é a Memória Universal. Nós temos a manifestação dessa Memória limitadíssima, em comparação com a Grande Memória.

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Assim como os Céus são mais altos que a terra, Meus Pensamentos são mais altos que os vossos pensamentos, e Meus Caminhos mais altos que os vossos caminhos, assim disse Jeová. Vemos aqui, nestas palavras do Antigo Testamento, que, se Ele é o Pensamento Total (como total são todos os Seus Poderes Oniabarcantes), nós também somos semelhantes a Ele, porque temos pensamentos.

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Todas as faculdades da alma, que nós temos infinitamente limitadas, Deus as tem infinitas. Oniabarcantes, como sejam: a razão, o juízo, o discernimento, a consciência e as faculdades criadoras da alma. Eu que fiz parir, não parirei? Palavras com as quais anuncia o nascimento do Cristo Interior, engendrado pelo Espírito Santo, a Potência Criadora do Universo visível e invisível.

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E, mais que tudo, essa faculdade que o homem ama, com idolatria: a liberdade. E essa liberdade de onde emana? Da Vontade, com a qual também somos semelhantes a Deus, no todo.

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Se em tudo somos semelhantes a Deus, afirmando as palavras de Cristo, somos deuses: Não sabeis que vós também sois deuses e que o Espírito de Deus tudo faz em vós?

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Então, temos aqui a chave do problema. Como chegar a esse estado de consciência em que nos seja possível a compreensão destes mistérios da mente humana? Como penetrar nesse Arcano Misterioso? Como descerrar o véu e ver com claridade meridiana a Verdade? Só identificando-nos com ela.

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E no Cristo temos o Caminho. Façamo-nos, conseqüentemente, semelhantes a Cristo. Pensemos como Ele pensou e, logicamente, passaremos pelos sublimes e transcendentais estados de Consciência Superior, pelos quais Ele passou até obter a culminação da Potência Divina: ser Um como o Pai, Um com a Potência Divina.

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Espiritualmente, conceituamos Cristo o Maior dos Instrutores, o Maior dos Mestres, porque ninguém antes d'Ele nos ensinou, com tão grande sabedoria, como ascender em linha reta até chegar à completa unificação com o Pai.

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Não me deterei a explicar o aspecto oculto de Sua Doutrina, impossível de ser transmitida a um mundo, em sua imensa maioria, apegado a suas crenças, egoísta, ególatra, despreparado para receber a Verdade, como não se encontra o aluno do Jardim da Infância para receber lições de Altas Matemáticas, que requerem muitíssimos conhecimentos anteriores, no encadeamento dos conhecimentos científicos, que segue a ordem racional que vemos no desenvolvimento natural, pois, como disse São Paulo, cada coisa tem seu tempo...

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Eis aí porque as Doutrinas Ocultas não foram ensinadas à luz pública, e a parte mas substancial, os Mistérios Maiores, assim em todas as Doutrinas, só foram privilégios de muitos poucos.

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Alguém, sem uma reflexão serena, poderia objetar que isso seria um egoísmo. Pensar assim, seria um absurdo, tomando-se em consideração que a seu tempo cada um chegará também a conhecer aquilo que no presente não poderia assimilar, por falta de conhecimentos anteriores, que lhe fizessem acessível ao entendimento a interpretação das Sagradas Escrituras, como o Conhecimento de riquezas extraordinariamente sublimes que se encontram ocultas em cada uma das palavras do Salvador Jesus Cristo, como também nas palavras dos Grandes Enviados Divinos que o antecederam.

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Para os mais evoluídos, a compreensão se torna mais fácil, porque, ainda que a sua razão não compreenda e a sua inteligência não lhes permita raciocinar, em troca, a intuição (superior à inteligência e ao talento; este, a máxima expressão da inteligência do homem) lhes fará perceber o meio como poderá aceitar os conhecimentos transcendentais da Revelação de Jesus Cristo. A propósito, não existe mais que uma só Revelação, já que Ele se classificou como o Último dos Divinos Enviados, de forma que os que o seguissem, jamais poderiam sair de Seus Ensinamentos e de Suas Palavras, conforme vemos exposto em inúmeros versículos disseminados por todos os livros que compõem o Antigo e o Novo Testamento.

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Qualquer outra revelação será invenção humana ou de espíritos; e não poderíamos jamais confundir (raciocinando com inteligência) as doutrinas humanas ou de espíritos desencarnados com a Doutrina de Cristo ou dos Grandes Instrutores anteriores.

 

A realização dos fenômenos catalogados como milagres (no desconhecimento da Verdade) não nos deve seduzir, porque para isso temos advertências (que ignoram os que não lêem as Sagradas Escrituras), como esta: Levantar-se-ão falsos cristos e falsos profetas, que farão prodígios e milagres para enganar, se possível, até os escolhidos.

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Chegamos até aqui à parte mais culminante de minha conferência, ao tema mais complexo para dar-se a compreender. Como discernir, como compreender, como diferenciar um mestre verdadeiro de um falso? Como adivinhar o que diz a verdade, ou engana? Como estar seguro nestes tempos em que os mestres, os cristãos falsos, brotam por toda a parte, em cumprimento das profecias?

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Sem dúvida esta tarefa torna-se fácil. Queremos saber qual dos tantos mestres é o verdadeiro e os demais falsos?

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Simplesmente todos os que pregam a si mesmos e os que pregam doutrinas de homens ou dos espíritos são falsos. Não sigais nem doutrinas de homens, nem doutrinas de espíritos,disse o Salvador; e os Apóstolos declararam que não há senão uma só Doutrina, um só Cristo, um só Salvador, um só Deus.

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Quando se formam outras doutrinas, estas são formadas pelos indoutos, que torcem a verdade, com injustiça.

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Mais claramente, todas as doutrinas humanas ou espíritas sustêm a vontade humana; seguem como se não conhecessem que Cristo pregou a Obediência a Deus dentro de Seus Mandamentos e Estatutos.

É, pois, a Doutrina de Cristo a que deve prevalecer nos homens prudentes; e com essa mesma Vontade humana que crêem ter, com essa mesma vontade, imitar a Cristo, fazendo-se obedientes ao Pai Universal até a morte.

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Deve-se esclarecer o caso de que a liberdade material do homem, quanto a seus direitos e deveres como cidadão, nada tem a ver com a liberdade espiritual. Não compreender mal: Aceitai a liberdade, no referente ao humano: dai ao mundo o que é do mundo, e a Deus o que é de Deus. Devemos pagar todas as nossas dívidas: A César o que é de César; e a Deus o que é de Deus.

 

(*) Conferência do Professor Julio Ugarte y Ugarte, na cidade do Rio de Janeiro, em 24 de agosto de 1939.

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