Deus e Homem
O nascimento do Menino-Deus é o acontecimento mais importante ocorrido no mundo. É a encarnação do Espírito Santo de Deus que, descendo de Sua Glória para salvar a humanidade, se rebaixa, se limita no homem, a todas as necessidades que lhe são inerentes, às dores e sofrimentos em geral, a esse estado de condicionalismo da vida humana.
É Deus Onipotente que, dando do Seu Espírito ao Menino-Jesus, nasce entre os homens como se fosse homem, de tal modo que o mundo não pôde reconhecê-lo devido a sua identificação com a pessoa humana. Quer dizer, o Espírito Divino em Jesus estava limitado, igualava-se a todos os meninos até o tempo em que o Pai Espiritual se lhe manifestou, abrindo-lhe o ouvido e a visão espirituais. Até então o Menino-Jesus não tinha outros conhecimentos que os ensinados no meio ambiente em que nascera e seguindo, como todos os meninos, as crenças religiosas dos seus pais e os costumes do povo em que vivia.
A manifestação do Pai Celestial, ocorrida na mocidade de Jesus, em conformidade com as profecias, iniciou uma vida interna nova no Divino Enviado. Jesus começou o conhecimento de Si mesmo, o conhecimento do Seu Espírito Santo, sendo sabedor e pondo em prática a Doutrina da Santa Obediência à Vontade do Pai; destarte, à medida que o menino crescia, crescia nEle o Espírito Santo, e crescia em Virtude e Graça do Senhor.
Até o tempo da manifestação do Pai Celestial, Jesus viveu na Lei de Liberdade, seguindo a "tradição" dos homens desde o princípio do mundo, por isso a Sagrada Escritura nos relata: "Aquele que jamais conheceu pecado, se fez pecador por causa dos ímpios".
Este foi o pecado de Jesus, transmitido desde Adão, de geração em geração, e sugerido aos homens desde a sua meninice: a ideia de liberdade da alma, do livre-arbítrio, fato que sucede até a data de hoje e que continuará até finalizar o mundo daqueles que não seguem o Caminho de Cristo: a Santa Obediência à Vontade de Deus, dentro dos Seus Mandamentos e Estatutos, preferindo fazerem as vontades dos seus pensamentos e os desejos de sua carne, em completa contradição com o Santo Evangelho do Senhor.
Jesus, possuidor do Mistério da Vontade de Deus, Mistério que havia estado oculto desde o princípio dos séculos em Deus, que criou todas as cousas, e jamais revelado aos homens nas gerações passadas, foi o primeiro a entrar na Lei de Obediência, agradando-se imensamente na Corrente Santa, e exclamando: "O fazer Tua Vontade, Deus meu, tem agradado a minha alma".
Desde o dia em que o Menino-Jesus discutia no templo com os doutores da Lei Mosaica, aos doze anos, até os trinta anos, em que principiou sua vida pública, nada nos conta o Novo Testamento. Durante esses dezoito anos, Jesus foi-se aperfeiçoando na Obediência e o único que se sabe: "Embora fosse filho, aprendeu a Obediência pelas coisas que padeceu, e tendo sido aperfeiçoado, tornou-se autor da eterna salvação de todos os que lhe obedecem".
Jesus, tendo chegado à plenitude do Cristo, revelou primeiramente, o Mistério da Vontade de Deus aos Seus Apóstolos e depois ao mundo: a Boa Nova, o Evangelho, a Doutrina do Altíssimo, segundo as suas próprias palavras:
"A minha Doutrina não é minha, mas do Pai que me enviou; se alguém quiser saber se esta Doutrina é minha ou vem do Pai, faça a Vontade de Deus, e, assim, chegará a saber pela mesma Doutrina, que esta Doutrina não é minha, mas do Pai que me enviou".
Jesus foi o primeiro que alcançou a liberdade gloriosa dos filhos de Deus, porque nEle estava Deus, e porque "onde está Deus aí há liberdade".
Uma é a liberdade humana, o pecado adâmico, e outra é a Liberdade de Deus em nós, imitando a Obediência do Divino Redentor.
Com Cristo, Deus nos liberta dos laços do Diabo, o Mentiroso, e de Satanás, o Rebelde, simbolizado na saída do povo escolhido, do povo israelita escravo no Egito, onde o Faraó representa o espírito maligno e Moisés, o Cristo - segundo o Apóstolo São Paulo. Assim, quando entramos na Obediência apostólica, Deus nos salva do pecado, da rebeldia, dando-nos a liberdade gloriosa dos filhos de Deus, que podemos alcançar pela unificação com a Vontade Divina, a única verdadeiramente Livre.
Imaginar o homem que, fazendo suas vontades, com sua vontade pessoal, humana, isso é a liberdade gloriosa dos filhos de Deus, é erro gravíssimo, uma verdadeira inversão dos ensinamentos evangélicos. Uma prova irrefutável temos deste terrível engano que milhões de homens, que se chamam cristãos e se matam uns aos outros, impulsionados pela sua vontade, consumando o crime por atacado, as grandes guerras. Precisamente, foram os homens ímpios, rebeldes, desobedientes a Deus, os que crucificaram a Nosso Senhor Jesus Cristo.
Imaginar-se que com a nossa vontade poderemos salvar-nos, é contrariar os ensinamentos evangélicos: "Deus é o que salva". É continuar como se encontrava o povo israelita, antes da Vinda do Senhor, que não pôde cumprir os Mandamentos e Estatutos, pois os mais perfeitos caíram na cobiça, pelo que os Apóstolos nos declaram: "Sem nós, nem os profetas seriam aperfeiçoados". É fazer inútil a Vinda do Senhor.
Procuremos imitar a vida interna de Nosso Senhor Jesus Cristo, conforme o ensinamento apostólico: "Eu desejaria que todos nós tivéssemos aquele sentir interno que tem tido Nosso Senhor Jesus Cristo que, ao chegar a Deus, humilhou-se perante si mesmo e, tomando a forma de servo, se fez obediente ao Pai até a morte, e morte de cruz".
Fazer-se santo, pela vontade humana, seria cair em condenação, pelas palavras do Senhor: "Ai daqueles que se santificam a si mesmos."
Para que nosso juízo seja justo, teremos que fazer o que fazia o Divino Redentor: "Meu juízo é justo porque eu não procuro fazer a minha vontade, mas procuro fazer a Vontade dAquele que me enviou, o Pai" e, outra vez, nos declara: "Eu não desci ao mundo para fazer a minha vontade, mas para cumprir a Vontade de Deus e terminar a Sua obra".
Cantemos hosanas. Glorifiquemos a Deus, ao Senhor dos Céus e da terra. Demonstremos a nossa fé, seguindo a Jesus, o Grande Servo do Senhor, para alcançar a salvação das nossas almas, a liberdade gloriosa dos filhos de Deus. Espalhemos por toda a parte a Santa Obediência que Jesus, o Cristo, praticou desde menino, a verdadeira Caridade que veio de Deus ao mundo, do Verbo Divino do Mártir do Gólgota.
(*) Correio do Povo, 25 de dezembro de 1947.